Templates da Lua

Créditos

Templates da Lua - templates para blogs
Essa página é hospedada no Blogger. A sua não é?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fuga da vida inócua

Calor. A chuva lá fora faz todos fecharem os vidros. Respiramos o mesmo ar e sofremos na mesma intensidade. Exceto um cidadão - sentado em uma poltrona mais confortável que a dos outros - parece se importar menos que os quase 100 passageiros, suados, estressados e cansados: o cobrador.

Em posição invejável, não pela profissão - que não lhe desmereça -, mas por seu status de Rei em situações calamitosas como essas descritas. Arnaldo precisa passar para o outro lado da catraca. O ponto está próximo. O guarda-chuva atrapalha na busca por pequenos espaços pelo seu objetivo.

A batalha é árdua. Além de todas as dificuldades dentro da lata, é praticamente impossível saber onde está. O vidro está embaçado. Vem, então, a ideia facilitadora. Descer pela frente seria uma boa opção. Cobrador? De olhar no horizonte, volta para os sapatos molhados de Arnaldo até seus cabelos iguais. Não.

Arnaldo olha para o crachá: Oswaldo. Funcionário há 12 anos. Explica? Longe das ordens recebidas, está o bom senso... Que não existiu durante todo esse tempo.

Até andar aquele imenso corredor, uma infinidade de sentimentos alheios cerca a tentativa de Arnaldo de apenas descer no ponto certo. Dá licença? Uma bufada. Por favor? Duas. Vai descer? Três. Último farol... Ainda faltam alguns obstáculos.

O ônibus para e ninguém desce. Nem Arnaldo. Vai desceeeer!!! E o rei, com seu exímio raciocínio, torna seu olhar debochado a Arnaldo. Se fosse descer ali, porque não passou antes? Que desça no próximo, agora...

Arnaldo consegue chegar na porta ao fundo. Ao abri-la, um elogio aos serviços do rei e do comandante: vai pro inferno! O ônibus sai, em meio as risadas de um cidadão há 12 anos numa função inócua, explicada pela atitude. Arnaldo abre o guarda chuva, irritado. Tem que caminhar até o ponto perdido.

Olha pro relógio no mesmo tempo em que um carro joga a água da poça em toda sua roupa. Ouviu um eco do que falou ao rei: vai pro inferno! Quem era? No veículo que foi embora estava Mauricio, demitido por ele naquela manhã. Arnaldo sabe como foi, e porque foi... A consciência pesa. E assim segue...

O mundo é um círculo vicioso. Amanhã pode ser eu, você e ele. Você, ele e eu. Ele, mim e você. Acima de tudo, vale o respeito, responsável pelo seu caminho transparente e próspero. Antes que a nossa vida é que fique inócua.


Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pela escrita, Guilherme.

A leitura dos seus textos realmente provoca muito prazer.

Abraços,

Patrícia